segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carlos Drummont de Andrade


OS POBRES
(Carlos Drummont de Andrade)
Domingo. Tarde. Consócio da Matriz.
Luz escassa no adro verde.
Comprida toalha vermelho-vinho
amacia a mesa das deliberações.
Ao derradeiro raio de sol
Bailam crepúsculo no ar.
A Conferência vicentina
considera a vida dos pobres.
O pai não veio desta vez.
Mandou-me em seu lugar. Sou grande,
já não sou menino estabanado
ao cuidar da vida dos pobres.
Mas que sei da vida dos pobres
senão que vivem: sempre, sempre
Como a água, a pedra, o costume?
Se São Vicente manda ver
no rosto deles o Cristo,
o que vejo é comum pobreza
resignada, consentida,
tão natural como sinal na pele.
Estendo a mão com gravidade
Na hora de contribuir.
Não é meu dinheiro? É meu gesto.
Não salvo o mundo. Mas me salvo.
(enviado pelo cfr. Wálter - Franca,sp)

Um comentário:

  1. Parabéns pela iniciativa!! Ler poesias é respirar um ar mais puro. Abraços a todos
    Ricardo Fonseca
    Diretor nacional de comunicação da SSVP

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